sábado, 3 de março de 2012

A vida da gente

Muita gente considera assistir novela a maior perda de tempo na vida... É futilidade? De certa forma sim. Penso que depende da novela. Futilidade por futilidade, muitas outras coisas também podem ser consideradas como tal: futebol, programas de TV em geral, filmes, videogame etc... Prefiro pensar nisso tudo como diversão, distração, como uma válvula de escape para o estresse diário. O ser humano precisa de diversão, ninguém é de ferro. Acho perda de tempo e loucura o fanatismo... Tudo que é exagerado estraga. Conheço gente que passa horas sentado diante da TV assistindo uma novela após a outra, seriados, etc, e deixa de cuidar dos filhos neste momento, por exemplo. Isto já acho neurose, vício. Tudo tem limite. Não sou fanática por novelas, mas gosto de acompanhar normalmente a novela das 6h da Globo. Normalmente neste horário as novelas são leves, engraçadas, inocentes. Depois deste horário as novelas costumam ser muito baixas, com muito sexo, histórias clichês do jeito que o "povão" gosta. Não gosto de nada agressivo, por isso não acompanho estas novelas. Gosto de novela de qualidade e normalmente as novelas às seis horas mantém um certo padrão. Hoje foi o último capítulo da novela que acompanhava, "A vida da gente". O começo dela foi muito chato, muito meloso. Depois de cerca de um mês a história começou a ficar interessante. Notei que as histórias das personagens eram reais demais, assim como a vida da gente realmente. Não era nada surrealista, romantizado. Assim como dizia Nelson Rodrigues, era a vida como ela é, retratada numa novela. O texto me encantou desde o início, muito bem escrito, com diálogos dinâmicos, as personagens eram fortes e marcantes. A temática essencialmente girava em torno da vida de duas irmãs muito unidas, que viveram vários conflitos durante a trama: intrigas da mãe que as tratavam com diferença; a mãe que as obrigavam a viver e tomar as decisões que ela julgava certas; disputaram o amor do mesmo homem e da mesma filha... O destino as vezes nos prega peças e nem sempre sabemos como agir, como recomeçar. Muitas vezes me identifiquei com os sentimentos de alguns personagens, com a história. O que mais me sensibilizou foi a forma como os problemas das personagens foram tratados, com sutileza e realidade. Uma novela que é um passatempo, uma futilidade, acabou sendo inspiração para mim, em certos momentos uma lição de vida e perseverança. Acho que é disso que as pessoas precisam: de boas mensagens, de histórias bonitas, de aprendizado. Esta novela representou muito bem este papel. Num país tão carente de cultura, achei fantástica a reflexão sobre a brevidade da vida, a fluidez do tempo, tão bem representados nas palavras de Guimarães Rosa declamadas pela personagem do professor Lourenço. Esta cena e da personagem Iná me fizeram refletir muito sobre a vida, sobre o tempo, sobre o meu tempo, quem sou, como gasto meu tempo, como evoluo com o passar do tempo, como transformo a vida das pessoas e como elas transformam a minha vida. É uma reflexão muito profunda... Muito filosófica... Esta novela me fez repensar minha vida, a vida da gente... Parabéns Licia Manzo por tanta sensibilidade, humanidade e delicadeza... Vale a pena ver de novo!

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