quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Manchetes de hoje

Fico muito chateada ao ler as notícias do dia... Só desgraça e tristeza...
Veja:

Jornal Folha de São Paulo de hoje:

"Tráfico faz ameaças a militares fora do Complexo do Alemão."
"Menina sequestrada liga para a PM e é libertada em SP."
"Justiça diz que Tiririca não é analfabeto."
"Um ano depois, reconstrução engatinha no Haiti."
"Morador diz que foi amarrado por policiais em blitz."
"Não haverá mudança no Rio com corrupção policial. - "O mal atravessa os dois lados (a polícia e o tráfico)", diz o antropólogo, para quem o governo prega e a mídia difunde uma "enorme ilusão" de maniqueísmo."
"Aids volta a crescer no Brasil, com mais casos entre os jovens."

Estas são só algumas manchetes... Quanta desgraça...
E assim caminha a humanidade...

Camisinha

Achei esta outra reportagem muito legal também, uma ótima reflexão.
A matéria é de Luiz Felipe Pondé, colunista do jornal Folha de São Paulo, do dia 25 de novembro de 2010.

"Debate sobre camisinha é barulho por nada.

Sempre me espanta o fato que se dá tanta atenção ao que o papa diz. Não porque ele não seja uma figura importante (no caso de Bento 16, também um teólogo importante), mas porque muita gente que faz barulho com o que fala não se diz católica.
Afinal, porque tanta atenção? Talvez haja aí algo que a psicanálise possa responder: trauma com o pai? Ser contra a "camisinha" invibializa sua distribuição no mundo? Custo a crer que a fala da Igreja diminua em uma dezena sequer o número de camisinhas acessíveis. Acho muito barulho por nada.
A Igreja Católica é uma Instituição antiga e sábia. Gente mal informada pensa o contrário. Esteve em muitas trincheiras ao longo de 2.000 anos, salvou gente, matou gente. Espírito e corpo, como todos nós. Teve e tem um papel civilizador essencial.
Acho um erro quem considera possível descartar a posição da Igreja para com "hábitos sexuais contemporâneos" de forma ligeira como se fora simples "atraso".
Frases como "o mundo avançou muito" são normalmente indício de superficialidade analítica. Homens e mulheres continuam atolados nos mesmos dramas de amor, ódio, sexo e morte.
O foco da igreja deve ser a humanização da sexualidade, o que significa basicamente que sexo é barato e amor é caro, o primeiro sem o segundo sempre corre o risco de ser degradante.
Neste sentido, o uso da camisinha é apenas paliativo no combate a comportamentos sexuais promíscuos que aprofundam a contaminação com doenças sexualmente transmissíveis (DST).
A melhor forma (todo mundo sabe) de combater a DST é a mudança de comportamento sexual (tornar o sexo "mais caro" ao afeto).
Ma isso ninguém quer pensar porque é "feio" dizer que a "vida como balada" é uma beco sem saída. Mas é exatamente aí que a igreja destoa e por isso se torna essencial, para além das crenças de cada um.
O pecado da Igreja Católica nesses assuntos é "elevar" demais o nível do debate, saindo do senso comum que é simplesmente achar que sexo se resolve "lavando o corpo com água".
A igreja condena o pecado, mas não o pecador. Aceitar o uso da camisinha em casos de prostituição pode ser apenas uma forma de "misericórdia" pelo coitado sexual que "vende" seu corpo como escravo."

Muito se fala da Igreja Católica, mas ninguém entende que ela defende o amor e a família. Nunca a igreja fará apologia a camisinha, pois ela defende o sexo com uma única pessoa, ou seja, o seu amado marido ou esposa. Para que ficar pulando de galho em galho? 
A igreja defende a fidelidade ao amor, a fidelidade à família.
O grande problema é que nossa sociedade perdeu seus valores e o que vale hoje é uma vida vazia, onde jovens transam com qualquer um, sem amor, sem compromisso, sem responsabilidade.
Amor? Para eles isso não existe mais, é história de conto de fadas. Fidelidade?Isto também não existe mais, todo mundo trai. Família? Isso também não existe, meus pais são separados... Este é o pensamento da nova geração.
E como podem cobrar da Igreja Católica a defesa da camisinha, se isto está aliado a todos estes fatos? 
Se as pessoas entendessem um pouquinho da doutrina e fé católica não fariam tanto barulho por isso.
A posição da igreja está correta. E como uma mulher casada, católica, testemunho que não há felicidade maior na vida do que viver o casamento e a familia. A vida de baladas é uma vida vazia, de felicidade momentânea. A vida de quem ama é uma vida completa, cheia de felicidade. Para que vou querer outra pessoa se sou feliz com meu marido? 
Vivemos uma cultura do imediatismo. Queremos tudo a todo momento. E as pessoas buscam realizar todos os seus desejos a qualquer custo. O resultado é decepção, infelicidade, drogas, violência, uma vida vazia de buscas incessantes.
Não é isso que a igreja católica prega. 
Por isso acho interessante a opinião do jornalista acima: "Que a vida como balada é um beco sem saída". Concordo. E acho que nosso comportamento que tem que mudar e não a filosofia da Igreja.
Se não mudarmos, continuaremos a caminhar para o abismo de uma sociedade infeliz, cheia de gente vazia.

A norma culta nos dias atuais

Achei esta reportagem muito boa, do jornalista Aldo Pereira, do jornal Folha de São Paulo, do dia 25 de novembro de 2010. Não deu para postar antes... Segue:

"Apologia da norma culta

Muitos fatores concorreram, desde o descobrimento, para fragmentar a língua portuguesa de Caminha em dialetos brasileiros: extensão territorial, precariedade de comunicações, nível rudimentar da educação dos colonos, diversidade tribal afro-indígena.
Mas a literatura e a mídia atestam que sobrepaira na diversidade atual um dialeto minoritário associado a prestígio e poder.
Toda língua evolui, claro. Preferivelmente, contudo, em processo similar ao de lei e costumes, conducente à assimilação gradual das mudanças. Estabilidade de padrões é indispensável a organização social, a ponto de justificar coerção do Estado; pense na moeda e no sistema métrico.
A norma culta (hoje menos referida por esse nome), tem provido a língua de um referencial resguardado contra variações que, se prematuras e indiscriminadas, poderiam comprometer a eficiência da comunicação.
A norma culta tem favorecido também a  comunicação inteligente na atividade intelectual, na política e no ordenamento jurídico: nenhum sistema legal poderia operar com eficiência, em país algum, sem rigor gramatical e semântico, tanto na prescrição das leis quanto na jurisprudência.
Diante dessas evidências, porque a norma culta inspira tanta controvérsia episódica e veemente? A principal das várias razões pode ser sua conotação de etilismo tingido de racismo, a tácita e presunçosa inferência de que falar e escrever "bem" (em geral, extensão de outros privilégios no acesso ao saber) legitima a hegemonia duma classe.
Outra razão pode estar no desconhecimento de como variantes dialetais fragmentam as línguas. Quantos percebem, por exemplo, que a língua aprendida na infância é sempre um dialeto? Ou que a escrita é um dialeto da fala?
Quer se destine à leitura em voz alta (rádio, TV, artes cênicas, discursos, palestras), quer à leitura silenciosa processada no ritmo e grau de concentração do leitor, a escrita se caracteriza por atributos próprios e cumpre papel distinto do imediatismo da fala.
Por isso, caluniar a necessária identidade dialetal da norma culta para impugnar o padrão homogêneo de comunicação é o avesso do preconceito. Traz, entre outros contraproducentes efeitos, o de entorpecer a aquisição do conhecimento necessário à proficiência em outras disciplinas.
Terceira razão da crítica as vezes abusada que a norma cultua inspira talvez advenha do nome antipático. Experimente substituí-lo, digamos, por português acadêmico (no sentido de "aprendido na escola"), e ensiná-lo como segunda língua (em relação ao dialeto trazido de casa), com precauções como evitar correções em classe, para não humilhar o aluno principiante perante seus pares; melhor limitá-las à vistoria dos cadernos.
O ensino desse português acadêmico pressuporia rigor na escrita, limitada tolerância gramatical e vocabular na fala, mas liberdade ilimitada na prosódia: afinal, por que desbotar o colorido de pronúncia e entonação dos falares regionais do Brasil?"

Penso que de fato a norma culta é conhecida de uma pequena parte da população Brasileira, talvez apenas entre alguns da classe média e da classe alta da sociedade, devido a precariedade da educação no Brasil.
Quando escutamos um político ou um advogado falar, nos impressionamos com sua dialética. Por isso muitas vezes somos ludibriados por aqueles que falam bonito...
Penso que cada vez mais as pessoas agem como se fosse "feio", "cafona" falar "bem". Escrever então... Estamos criando uma cultura de simplificação e depreciação da nossa língua.
No trabalho mesmo, em trocas de e-mail estremeço ao ler vários erros ortográficos e de concordância. As conversas pela internet são cheias de abreviações, cada vez mais misturamos o inglês com o português, cada vez mais usamos gírias para nos expressar.
É uma pena. Penso que nossa língua é tão rica que deveríamos valorizá-la e não depreciá-la. Todos deveriam aprender o português, a norma culta, e adequar a sua fala à quem quer comunicar, utilizar-se do que chamamos "camaleão linguístico", ou seja, alterar a sua fala, adaptá-la de acordo com a situação em que se encontra e ao seu ouvinte.  
A língua portuguesa não é chata. Chatos somos nós, que não procuramos evoluir e sim estagnar ou "emburrecer". As pessoas tem preguiça de ler, de aprender e é por isso o Brasil não melhora, e enquanto não houver investimento na educação, continuaremos a ser um povo medíocre ou até pior. E quem sabe um dia nem norma culta haverá, cada um falará como quiser, o dialeto que quiser, sem regras de escrita. Caminhamos rumo ao caos.